sábado, 21 de janeiro de 2012

Empreendedorismo: Abertura de empresa dentro de casa

A promotora de eventos Renata Lara, 39 anos, que tem uma empresa de festas corporativas, de casamento e aniversários desde 1994, decidiu fixar seu trabalho dentro de casa depois do nascimento de sua filha, hoje com sete anos de idade. Ela conta que percebeu que o excesso de responsabilidade que tinha fora de casa prejudicava sua felicidade. “Trabalhar em casa me proporciona mais qualidade de vida, já que antes eu me sentia como um robô num ritmo enlouquecido. Sou contra esse paradigma de que as pessoas têm de trabalhar fora de casa e ter uma rotina de empresa, trânsito e caos”, defende.

Para Lara, ter escritório em casa facilita a administração dos diferentes setores de sua vida. “Ao mesmo tempo em que me comunico com fornecedores e clientes, consigo cuidar da minha filha e acompanhar seu crescimento, apesar de ela ainda não entender direito que, mesmo estando em casa, estou trabalhando”, explica.

Tomar a decisão de se tornar empreendedor não é tão simples como parece. Além de ter de lidar com a parte burocrática do negócio, conhecer bem a si mesmo e o ramo no qual se deseja trabalhar são imperativos para quem pretende alcançar o sucesso profissional. Para quem monta a empresa dentro da própria casa, as coisas não são diferentes. Mesmo que a ideia pareça ser simples por aproximar a vida profissional da pessoal, quem opta por ter escritório em casa deve lidar com desafios como a separação das finanças, do tempo e do espaço.

Para o superintendente do Sebrae-DF Antonio Valdir Oliveira Filho, uma das maiores preocupações sobre quem monta empresa dentro de casa está relacionada à profissionalização do negócio. “Não dá para ser amador. Se a pessoa trabalha no ramo de alimentos, por exemplo, deve ter cuidado com o manuseio e preparo dos alimentos, já que as pessoas irão consumir”, explica. Segundo ele, a formalização do empreendedor pode auxiliar neste processo de profissionalização do negócio e deveria ser incentivada. A Lei Complementar nº 128, de 19/12/2008, oferece condições favoráveis para que trabalhadores informais se tornem empreendedores individuais legalizados e passem a contar com uma série de benefícios. De acordo com pesquisa realizada em 2011 pelo Sebrae-DF em parceria com a Fecomércio, 34,7% dos empreendedores individuais do DF trabalham em suas residências.

Caso o empreendedor queira se formalizar, outro passo importante para que o negócio dê certo diz respeito à organização. Oliveira Filho explica que empreendedores que trabalham em casa podem se dar mal caso não saibam lidar com a gestão financeira do negócio. “Um erro muito comum de quem administra empresa dentro de casa é não separar os caixas. Muitas vezes, a pessoa acha que o negócio não está dando lucro considerável porque acaba gastando dinheiro com despesas da casa e da família”, exemplifica.
Mais perto dos familiares

Não é novidade que as mulheres já se consolidaram no mercado e que, independente de onde e da forma como trabalham, muitas vezes têm de enfrentar dupla jornada de trabalho. Para quem acha que aquelas que têm empresa em casa estão em situação mais confortável por estarem mais próximas dos filhos e da administração da vida pessoal, o superintendente ressalta que o desafio acaba sendo muito maior. “É complicado mostrar profissionalismo aos clientes quando se trabalha em casa, e até mesmo os familiares podem acabar confundindo as coisas e atrapalhar a rotina do empreendedor. No caso de quem é mãe, fica também fica difícil explicar ao filho que pede atenção que aquele é ganha-pão dela”, ressalta.

Renata Resnitzky, 36 anos, vem enfrentando este desafio. Em 2002, a empreendedora foi morar com o marido na Austrália, onde trabalhava. A rotina era tranquila até que o casal teve o primeiro filho, quatro anos depois. A conciliação entre trabalho e maternidade começou a apontar as primeiras dificuldades e o cotidiano desandou de vez com o nascimento das filhas gêmeas. “Não é fácil administrar tantas coisas ao mesmo tempo e a dedicação ao trabalho realmente ficou em segundo plano a partir do momento em que eu me tornei mãe”, desabafa.

De volta ao Brasil com a família, Renata percebeu que não dava mais para continuar trabalhando fora de casa, já que, dividir-se entre filhos e carreira estava sendo uma atividade desgastante. Foi quando ela decidiu largar o emprego e abrir seu próprio negócio dentro de casa. “Minha vontade era ter uma fonte de renda e poder ficar mais perto dos meus filhos e, assim, acompanhar o desenvolvimento deles. Foi melhor para todo mundo”, revela.

Renata conta que sempre sonhou em abrir uma empresa, mas demorou muito para ter certeza do que queria. Com o tempo, ela aproveitou uma ideia que já tinha visto durante sua vivência na Austrália, onde as mães costumavam organizar os pertences dos filhos com etiquetas personalizadas para evitar a perda de objetos. Mesmo com as dificuldades iniciais que, segundo Renata, se derem na questão burocrática – a empreendedora demorou cerca de um ano para conseguir alvará de funcionamento -, a empresa foi aberta em março de 2011.

De acordo com Renata, um dos principais desafios de ter uma empresa em casa é a dificuldade de as pessoas entenderem que o trabalho é sério. “Assim como a parte física da empresa é bem separada da casa, os horários e o lado financeiro do negócio são bem dissociados dos demais”, explica. O negócio está crescendo e Renata se prepara para contratar um funcionário. “Apesar de trabalhar bem mais do quando o emprego era fora de casa, poder trabalhar com o que gosto dentro da minha casa e perto das crianças é a melhor coisa do mundo”, conta.

Saber separar os caixas da empresa e da casa e o momento do trabalho do da família é fundamental. Mas, quem empreende em casa, também deve se preocupar em separar o espaço físico da casa. “O ideal é que os locais sejam independentes para que a pessoa não desvie a atenção. Caso contrário, a empresa pode não ser levada a sério e acabar virando voluntarismo”, alerta.

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